Reações ao início da construção de Belo Monte


Excelente síntese de Global Voices, sobre Belo Monte, publicada hoje, 20 de agosto.

Povos indígenas e ribeirinhos da região da Volta Grande do Xingu, que serão afetados diretamente pela barragem da usina, e pessoas por todo o país protestaram contra o projeto, mas não conseguiram convencer o governo. As obras de Belo Monte foram iniciadas no final de junho, e essa será possivelmente a terceira maior hidrelétrica do mundo.

A Agência Brasil publicou em 1º de julho que as obras haviam sido iniciadas desde o dia 23 de junho. Em 7 de julho de 2011, a organização Xingu Vivo esteve no local para acompanhar de perto as movimentações e comunicou pelo Twitter:

@xinguvivo: São 40 homens trabalhando desde a semana passada e a expectativa p/ a próxima semana é de que serão 400. E + 40 máquinas novas. #BeloMonte

Nesse dia, observaram dez tratores realizando a terraplanagem no local designado para o alojamento dos trabalhadores da usina.
Comunidades indígenas protestaram na Avenida Paulista em junho de 2011. Foto por Pedro_dm_Ribeiro no Flickr. CC-BY-NC 2.0
Um dia antes, em 6 de julho, 300 mulheres vindas de várias partes do estado do Pará se reuniram na capital, Belém, para o Congresso de Mulheres do Campo e da Cidade. Um representante do Xingu Vivo reproduziu via Twitter a fala de uma liderança mulher dos Kayapó, no evento:

@xinguvivo: Kayapó Tuíra: “só a unidade entre povos contra #BeloMonte poderá nos levar a vitória”. Discurso curto, mas muito denso"

No mesmo dia, a usuária do Twitter @tunynfreitas alertou que a obra já causava as primeiras tensões no município de Altamira. Famílias que haviam deixado a área que será inundada não conseguiram alugar casas na zona urbana, e as que ocuparam terrenos vazios foram reprimidas por policiais. Ela comentou:
Construção de Belo Monte está aumentando os preços de aluguel em Altamira, Povo quer ocupar terreno sem uso, Polícia bate em manifestante

O debate está na sociedade, mas não alcançou a mídia
Manifestante contra Belo Monte na Avenida Paulista. Foto por Pedro Ribeiro, no Flickr. CC-BY-NC 2.0
Em 11 de julho, a usuária @PriscilaCosta4 fez um apelo no Twitter:

Nós temos o poder de autodestruição, vamos cuidar um pouco que seja do que nos resta, o planeta corre perigo! Diga não a Usina Belo Monte!

No dia 2 de julho, em seminário preparatório para o Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação (ENECOM), o professor de Economia Eduardo Costa criticou o papel da Amazônia, colocada em submissão aos interesses econômicos:

O governo olha para a Amazônia ainda como uma eterna fornecedora de matéria-prima para o restante do país. Qual o papel o governo está relegando à Amazônia?

Para ele, o debate tem acontecido na sociedade, mas não na mídia. Como não aparece na mídia mainstream, o assunto não alcançou a maioria da população. Os estudantes organizadores do evento fizeram da discussão sobre Belo Monte um dos objetivos do encontro, que contou com um ato contra a usina em Belém:

@EnecomPA: O Ato do #Enecom2011 terá como tema Belo Monte. Por isso, siga @xinguvivo e leia mais aqui: enecompara2011.blo... e enecompara2011.blo...

Manifestantes contra Belo Monte na Avenida Paulista em junho de 2011. Foto por Marisa Meliani, no Flickr. CC-BY-NC-SA 2.0.
Ativistas nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro, Belém, Manaus, Porto Alegre e São Paulo - e até mesmo em Londres - foram às ruas no domingo, dia 17 de julho, para protestar contra a usina de Belo Monte e seus impactos socioambientais. Alguns aproveitaram a ocasião também para protestar contra o novo Código Florestal, que foi aprovado na Câmara dos Deputados e tramita no Senado Federal.

Nesse dia, o Movimento Brasil pela Vida nas Florestas organizou um sit-in em um dos cruzamentos mais movimentados da cidade de São Paulo, o da Avenida Paulista com a Avenida Brigadeiro Luís Antonio. Segundo o site do movimento, cerca de 500 ativistas se sentaram no cruzamento, com cartazes em punho, “cantando e manifestando, durante mais de 20 minutos, sua recusa a Belo Monte e as alterações ao Código Florestal.” Veja a seguir o vídeo da marcha e veja aqui as fotos do sit-in.



O governo brasileiro e a polêmica em torno da geração de energia

O Global Voices tem acompanhado o caso da usina hidrelétrica de Belo Monte desde a retomada das discussões sobre o projeto, em 2010. Mas a especialista em processos de licenciamento ambiental Telma Monteiro publicou em seu blog uma análise do Plano Decenal de Energia (PDE), que torna o panorama ainda mais crítico. Além das usinas de Belo Monte, Tapajós, Madeira e Tocantins, o governo federal pretende construir no mínimo mais 24 usinas hidrelétricas no Brasil, sendo 10 delas na região amazônica, entre 2016 e 2020. Segundo entrevista concedida à IHU - online, Monteiro critica a política do governo:
"O governo brasileiro pretende lançar mão dos recursos naturais – exportando-os como commodities – para se transformar na quinta maior economia do mundo."

Por um certo tempo, o Ibama se recusou a conceder a licença para usina Belo Monte, provocando tensões internas no órgão, mas a decisão mudou quando o atual diretor Curt Trennepohl assumiu a instituição e decidiu pela aprovação da licença.

Em meados de julho, Trennepohl concedeu entrevista a uma TV australiana sobre Belo Monte. Um diálogo gravado após ele ter pedido a saída do operador de câmera de sua sala expôs a maneira que o diretor do Ibama entende meio ambiente e as comunidades indígenas da Amazônia. A entrevista vazou na rede e o jornalista Gustavo Barreto publicou em seu blog:

Indagado pela repórter se sua função seria de “cuidar do ambiente”, ele respondeu: “Não, meu trabalho é minimizar os impactos”.
Irritado com o tom recriminatório adotado pela jornalista, Trennepohl rebateu: “Vocês têm os aborígenes lá e não os respeitam”. Ouviu de réplica: “Então vocês vão fazer com os índios a mesma coisa que nós fizemos com os aborígines?”, para em seguida confirmar: “Sim, sim”.

20 de agosto, dia de protestos

Cartaz convida a todos a participarem da marcha contra Belo Monte.
Apesar do início das obras, a luta ainda não foi abandonada. Estão programados para hoje, 20 de agosto, protestos em 10 capitais brasileiras e em 16 países contra a usina de Belo Monte e contra o novo projeto do Código Florestal.
Há cerca de um mês, Diego Casaes, autor do Global Voices, publicou no Twitter:

Impossível que não haja uma alternativa à Belo Monte. I mean, seriously? Não tem UMA solução mais sustentável p/ prover energia p/ o Brasil?

E é justamente essa é a pergunta que os manifestantes querem fazer ao governo e aos brasileiros.
Acompanhe a cobertura especial do Global Voices Floresta em Foco para saber mais sobre o debate que acontece no Brasil, ChilePeru a respeito da construção de hidrelétricas.

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