Por Telma Monteiro
Participo de grupos variados no
WhatsApp, Facebook. Grupos locais de comunidades, grupos de esquerda, de fora
Bolsonaro, de meio ambiente, e por aí vai. Mas, um episódio me marcou profundamente,
não tanto pela gravidade do acontecido mas pela falta de um mínimo de senso de
certo ou errado.
Numa dessas entradas no grupo, num
de WhatsApp local comunitário, uma senhora encaminhou (com o selo de encaminhado
o que significa que recebeu e repassou) três áudios terríveis de fake News sobre
sete de setembro, alegando que os teria recebido de uma “fonte limpa” da sua
comunidade. Eu cliquei no primeiro e me arrepiei logo de início, pois o conteúdo
era puro terrorismo. Não fui até o fim do primeiro e indignada sugeri, ou
melhor pedi para que os administradores do grupo retirassem os áudios, sem
ouvir o primeiro por completo, e nem abri os outros dois imaginando o que
c
onteriam.
Com a postagem da dita senhora,
achei que viria uma discussão didática e em alto nível sobre o fato de que postar
áudios, vídeos ou textos de fake news, além de ser crime, seria um risco para
os integrantes do grupo que é grande. Qual não foi minha surpresa quando o meu
pedido de retirada dos áudios foi interpretado pela autora do feito como
fascismo, pois eu estaria “caçando” sua palavra. Pior, uma maioria do grupo
achou que deveríamos discutir o conteúdo, pasme, dos áudios. Irritada com o rumo
que estava tomando o episódio, resolvi insistir.
Argumentei o quanto pude de que
reproduzir e divulgar material, contendo fake News seria crime e, portanto,
nesse caso deveriam ser excluídos antes que mais mal provocasse. No entanto,
fui alvo de agressões, fui julgada e condenada apenas por querer preservar a
integridade e o nível do grupo. Optaram por manter os áudios e eu, cansada de
argumentar, acabei por ter que ouvi-los para poder continuar minha missão focada
em impedir que fake news terroristas fossem dissecadas em detalhes.
Mais chocada ainda, depois de
ouvir os três áudios, mais certeza tive que disseminar aquele conteúdo horrendo
poderia atingir pessoas pouco preparadas e causar ainda um mal maior, como
acreditarem naquilo e criar, nos mais desavisados e vulneráveis, muito pânico.
A autora da postagem fez todo tipo de peroração conclamando todos a discutir um
conteúdo que deveria ser jogado no lixo. Tentei ser didática, no sentido de explicar
que devíamos discutir a importância de não divulgar ou passar para a frente,
postagens como aquelas e os efeitos que causam nas comunidades mais simples.
Foi em vão.
Uns poucos concordaram comigo,
apoiando o fato de que fake news não se repassa, se ignora. Mas a maioria do
grupo se pôs a favor de discutir um conteúdo de mentiras terroristas ao
contrário de desconsiderá-lo, reforçando ainda mais aquele mal. Cheguei ao
cúmulo de mencionar detalhes dos áudios que comprovavam o objetivo de lançar
terror e medo na sociedade a partir de 7 de setembro. Áudios divulgados por
criminosos e espalhados por gente incauta e sem noção do estrago que estava
promovendo. Acabei por escrever que divulgar fake News seria fascismo.
Narrei esse fato para mostrar os
tempos bicudos que vivemos, como as pessoas são pusilânimes, como não pensam no
mal que podem provocar e nas consequências que isso pode trazer para a
sociedade. Na maioria dos casos, o objetivo é o de chamar a atenção para si
mesma e como estão ligadas a fontes “limpas”.