“A luta é de todos nós!”: a luta do
povo Munduruku da Amazônia na greve mundial do clima
“ele [Bolsonaro] está expulsando a gente da nossa casa para construir projeto de morte, está nos envenenando com agrotóxico, mercúrio e lixo. A nossa Amazônia está queimando para fazer pasto, plantar soja para Europa. A nossa Amazônia está em chamas para construir barragens e ferrovias, querem tirar o nosso bem viver que são a nossa casa, o nosso rio.”
A luta em defesa do clima não dá
para fazer sem a luta Munduruku em defesa da vida na Amazônia, que é a luta dos
povos indígenas e povos da floresta.
Assim é que, representando aos
povos indígenas na defesa da Amazônia, Alessandra Korap, do povo Munduruku, viajou desde sua terra no rio Tapajós (No Pará, Brasil) até Berlim, na capital
alemã, levando sua voz na greve pelo clima.
A manifestação de 20 de setembro de
2019 aconteceu paralelamente em 150 países, mobilizando milhões de
pessoas pela justiça climática. Só na Alemanha houve manifestações em 570
lugares distintos (informou a imprensa alemã), sendo a que aconteceu em Berlim
uma das maiores, com a participação estimada de 270 mil pessoas.
A fala de Alessandra foi traduzida
simultaneamente ao alemão por Silke Tribukait (da organização ASW) e também em
linguagem de sinais. Alessandra Munduruku com pintura de onça no rosto, como
usam as guerreiras de seu povo, resumiu a grave situação em que se encontra seu
povo e outras centenas de povos indígenas no Brasil:
“O Brasil está mergulhado no sangue do índio que começou
desde a pisada da Europa que chamou de Brasil, que vem massacrando os povos
indígenas e povos da floresta. Hoje no Brasil a nossa Amazônia a cada dia, a
cada minuto, vem sendo ameaçado pelo garimpo, madeira soja, carne bovina,
mineração, barragens, ferrovias, hidrovia e portos graneleiros.”
Ela agrega: “O Presidente de Brasil não gosta de índio,
não gosto da floresta, não gosta de rios. Ele não quer mais demarcar o nosso
território, ele quer vender para Estados Unidos (...)”,
Alessandra Munduruku continuou sua
denúncia, sem mencionar o nome de Bolsonaro porque, como os amazônidas sabem, é um nome perverso
que não é digno de ser mencionado:
“ele está expulsando a gente da nossa casa para
construir projeto de morte, está nos envenenando com agrotóxico, mercúrio e
lixo. A nossa Amazônia está queimando para fazer pasto, plantar soja para
Europa. A nossa Amazônia está em chamas para construir barragens e ferrovias,
querem tirar o nosso bem viver que são a nossa casa, o nosso rio.”
A guerreira munduruku encerrou sua
fala com um Sawe, expressão de resistência de seu povo e que foi repetido entre
aplausos e entusiasta gritaria pelos manifestantes nessa greve mundial pelo
Clima.
Sawe, Sawe, Sawe!!!!
Rompendo o protocolo
Antes de se despedir das milhares
de pessoas reunidas lá, Alessandra pediu para fotografar a multidão para
mostrar ao seu povo, para lhes mostrar que não estão sozinhos.
“Eu quero dizer que meu povo agradece por ter umas
pessoas tão boas lutando e defendendo a Amazônia”.
A guerreira Munduruku, que tinha
conseguido além de denunciar os intermináveis problemas na Amazônia, também
emocionar o público e ganhar sua simpatia, recebeu mais aplausos,
gritaria e mostras de apoio, além daquela expressão de resistência. “Sawe,
Sawe, Sawe!”
Adriana Montanaro - De Berlim