segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Povo Munduruku representado em Berlim: "A luta é de todos nós!"



“A luta é de todos nós!”: a luta do povo Munduruku da Amazônia na greve mundial do clima

“ele [Bolsonaro] está expulsando a gente da nossa casa para construir projeto de morte, está nos envenenando com agrotóxico, mercúrio e lixo. A nossa Amazônia está queimando para fazer pasto, plantar soja para Europa. A nossa Amazônia está em chamas para construir barragens e ferrovias, querem tirar o nosso bem viver que são a nossa casa, o nosso rio.”

A luta em defesa do clima não dá para fazer sem a luta Munduruku em defesa da vida na Amazônia, que é a luta dos povos indígenas e povos da floresta.
Assim é que, representando aos povos indígenas na defesa da Amazônia, Alessandra Korap, do povo Munduruku, viajou desde sua terra no rio Tapajós (No Pará, Brasil) até Berlim, na capital alemã, levando sua voz na greve pelo clima.

A manifestação de 20 de setembro de 2019 aconteceu paralelamente em 150 países,  mobilizando milhões de pessoas pela justiça climática. Só na Alemanha houve manifestações em 570 lugares distintos (informou a imprensa alemã), sendo a que aconteceu em Berlim uma das maiores, com a participação estimada de 270 mil pessoas. 

A fala de Alessandra foi traduzida simultaneamente ao alemão por Silke Tribukait (da organização ASW) e também em linguagem de sinais. Alessandra Munduruku com pintura de onça no rosto, como usam as guerreiras de seu povo, resumiu a grave situação em que se encontra seu povo e outras centenas de povos indígenas no Brasil: 

“O Brasil está mergulhado no sangue do índio que começou desde a pisada da Europa que chamou de Brasil, que vem massacrando os povos indígenas e povos da floresta. Hoje no Brasil a nossa Amazônia a cada dia, a cada minuto, vem sendo ameaçado pelo garimpo, madeira soja, carne bovina, mineração, barragens, ferrovias, hidrovia e portos graneleiros.”
Ela agrega: “O Presidente de Brasil não gosta de índio, não gosto da floresta, não gosta de rios. Ele não quer mais demarcar o nosso território, ele quer vender para Estados Unidos (...)”,

Alessandra Munduruku continuou sua denúncia, sem mencionar o nome de Bolsonaro porque,  como os amazônidas sabem, é um nome  perverso que não é digno de ser mencionado:
“ele está expulsando a gente da nossa casa para construir projeto de morte, está nos envenenando com agrotóxico, mercúrio e lixo. A nossa Amazônia está queimando para fazer pasto, plantar soja para Europa. A nossa Amazônia está em chamas para construir barragens e ferrovias, querem tirar o nosso bem viver que são a nossa casa, o nosso rio.”

A guerreira munduruku encerrou sua fala com um Sawe, expressão de resistência de seu povo e que foi repetido entre aplausos e entusiasta gritaria pelos manifestantes nessa greve mundial pelo Clima.

Sawe, Sawe, Sawe!!!!

Rompendo o protocolo

Antes de se despedir das milhares de pessoas reunidas lá, Alessandra pediu para fotografar a multidão para mostrar ao seu povo, para lhes mostrar que não estão sozinhos.

“Eu quero dizer que meu povo agradece por ter umas pessoas tão boas lutando e defendendo a Amazônia”.

A guerreira Munduruku, que tinha conseguido além de denunciar os intermináveis problemas na Amazônia, também emocionar o público e ganhar sua simpatia, recebeu  mais aplausos, gritaria e mostras de apoio, além daquela expressão de resistência. “Sawe, Sawe, Sawe!”

Adriana Montanaro - De Berlim

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Violação psíquica e física, é o que sinto ao ouvir Jair Bolsonaro


Como milhões de brasileiros, espero, estou  tentando digerir os impactos nas nossas personalidades e nos planos de futuro das famílias. 
Foto: Estadão
Por Telma Monteiro

No final do ano passado, depois da eleição em segundo turno, parece que ouve um súbito silêncio e uma absoluta sensação de impotência e medo do futuro. Pelo menos foi o que eu senti. Nosso pior pesadelo estava se consolidando e não haveria saída a não ser enfrentá-lo. O ano de 2019 começou e com ele veio uma avalanche de desmanches institucionais, sociais, políticos, pessoais.

Pessoas como eu, acredito, devem ter tido a mesma sensação: a de que estávamos prestes a vivenciar uma nova era no Brasil, a do retrocesso temperado com o autoritarismo da ignorância. Como se confirmou, uma sucessão de situações constrangedoras, partiram de um mandatário da República, que despeja sobre nós uma verve incontrolável de obscenidades e ofensas dirigidas aos mais variados segmentos da sociedade. Junte-se uma equipe de governo desgovernada, com arestas afiadas em uma espécie de rolo compressor que começou a remarcar um tempo que deveria estar confinado e morto no passado.

Como milhões de brasileiros, espero, estou  tentando digerir os impactos nas nossas personalidades e nos planos de futuro das famílias. Sinto-me violentada psíquica e fisicamente pelo presidente da República, todos os dias. O Brasil vai sofrer muito para resolver isso. Os povos recordarão, no futuro, um tempo em  que o dia virou uma noite interminável.

As marcas nas nossas vidas já se fazem presentes, quando se vê familiares e amigos se afastando uns dos outros, num clima novo, moldado pela desconfiança do outro. Bolsonaro ressuscitou a polarização e ambos os lados parecem estar numa torre de Babel de intolerância e desamor. É isso que sinto.

Ferrogrão – soja no coração da Amazônia

Estudo Preliminar 3 - Ferrogrão e a Soja na Amazônia                                                        Imagem: Brasil de Fato   ...