segunda-feira, 15 de março de 2010

Criatividade da Eletrobrás: Belo Monte agora será “hidrelétrica sazonal”

Projeto criativo de “hidrelétrica sazonal”, inédita no mundo, poderá ser a “grande esperança no setor elétrico", disse o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes.

Esperança, só se for das empreiteiras, ele quereria dizer.

Telma Monteiro

Esse pessoal da Eletrobrás é mesmo criativo. Não satisfeitos em inventar uma “hidrelétrica plataforma” agora inventaram a “hidrelétrica sazonal”. Nova caracterização para Belo Monte divulgada em matéria do Estado de São Paulo, de hoje (15).

Até onde pode ir o desplante dessa gente para convencer que o reservatório não seria artificial ou que a barragem de Belo Monte não seria “um monstrengo de concreto”? Só os canais de derivação e adução para levar a água até a casa de força principal teriam 40 km de extensão com larguras variando entre 200 e 750m e revestimento de concreto com 10 cm de espessura sobre um lastro de areia e pedra de 30 cm de espessura.

Como se não bastasse, esses canais seriam escavados na rocha no curso de igarapés que serão totalmente destruídos. Mais ainda, há uma controvérsia entre a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e os desenvolvedores dos estudos de viabilidade quanto a esses volumes: para a EPE as escavações em solo e rocha seriam respectivamente 160 milhões e 40 milhões de m³ e para a Eletrobrás, Odebrecht, Camargo Corrêa de Andrade Gutierrez seriam respectivamente 151 milhões e 59 milhões de m³ (Relatório do TCU). Coincidentemente as escavações em rocha têm um custo muito mais alto que as escavações em terra. Em se tratando de empreiteiras...

E as barragens? Também aí há divergências quanto aos quantitativos de concreto e cimento utilizados. Para EPE seriam 754 mil t de cimento contra 852 mil t calculadas pelo desenvolvedor. Para a EPE seriam 3,7 milhões de m³ entre concreto estrutural e massa contra 4,3 milhões de m³ calculados pelo desenvolvedor (Relatório do TCU). As variações ficam na média de 12%.

Então, com esses números é possível ter uma noção de como esse projeto criativo de “hidrelétrica sazonal”, inédita no mundo, poderá ser a “grande esperança no setor elétrico", como disse o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes. Esperança, só se for das empreiteiras, ele quereria dizer. Uma grande obra com quantitativos difíceis de aferir.

A que preço teria que ser vendida essa energia para o consumidor para viabilizar o retorno dos investimentos, com esse funcionamento sazonal? Só se o único interesse for o de lucrar com a execução da obra. Depois é depois...

Mais incrível ainda é o que disse o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim: "Ela [Belo Monte] acaba acumulando energia nos reservatórios de outras regiões". Isso seria mesmo um milagre ou mágica: construir uma hidrelétrica com todo esse poder de destruição no rio Xingu, que, segundo eles, não teria lago artificial, não teria concreto, seria sazonal e ainda conseguiria acumular água e energia nos reservatórios de outras regiões!

De tanto ver triunfar as nulidades...

4 comentários:

  1. ...se fosse só isso...
    "Ela [Belo Monte] acaba acumulando energia nos reservatórios de outras regiões". Isso seria mesmo um milagre ou mágica: construir uma hidrelétrica com todo esse poder de destruição no rio Xingu, que, segundo eles, não teria lago artificial, não teria concreto, seria sazonal e ainda conseguiria acumular água e energia nos reservatórios de outras regiões!
    'eles'já tem planegado as seguintes mega UHEs à montante: Jarina, Kakraimoro, Ipxuna, Iriri, Altamira e Pimentel...!! É que nem o Tucuruí no rio Tocantins, que precisou da UHE monstro Serra da Mesa à montante como 'Reservatório Hídrico' para 'estabilizar' as UHEs ajusante; Tucuruí foi planejado em 1950 já pensando na Serra da Mesa! É doentiu; São engenheiros, mas não tem noção do que fazem. Eles tem que passar a saber o que estão fazendo de ruim para tanta gente! Isso não é progresso; é só para os empresários de fora tirar mais o nosso minério. Brasil: agora é quinto, sexto mundo, fornecedor de matéria primária, não beneficiada, minério puro.
    É já para as eleições: tem que discutir essas coisas!! Aqui na Chapada dos Veadeiros, não é muito diferente, é no país inteiro! Mantenha as informações circulando, e parabéns pelas matérias.

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  2. No período de seca, a usina térmica é a única fonte garantida de suprimento de energia às regiões isoladas da Amazônia onde são preponderantes. Obviamente não dependem do clima como as hidroelétricas. Cabe a estas o papel de coadjuvante na economia do combustível das térmicas. Desta vez o ministro Minc está com a razão, “usinas de bulbo, obviamente sem reservatórios, funcionarão todo o tempo gerando a energia permitida pela vazão do momento: muitas unidades quando a vazão for grande e quase nenhuma quando a vazão for pequena. Este é um regime singular: hidroelétricas complementando térmicas. Representa uma estratégia completamente diversa daquela utilizada no Sudeste.
    Reservatórios de acumulação constituem formas dispendiosas de garantir suprimento de demanda em períodos de escassez (períodos críticos) devido a grande antecipação de investimentos na construção de reservatórios. Depende da existência de condições muito especiais na cabeceira dos rios formadores da bacia, só encontrados em região de relevo acidentado.

    Não faz sentido antecipar investimentos que permaneçam ociosos a espera que acidentes climáticos aconteçam. Acidentes climáticos são imprevisíveis como muitos acidentes naturais de causas ainda desconhecidas como, por exemplo, manchas solares, glaciações e erupções vulcânicas. Vale muito mais a pena pagar pelo custo da imprevisibilidade com termoelétricas — de baixo custo de capital — para serem acionadas quando os acidentes de fato acontecerem. Estas já são depósitos líquidos de energia que, obviamente não dependem do clima para serem acionadas. Os Técnicos, que foram tão eficientes na construção do sistema elétrico do Sudeste, fizeram uma aposta contra um futuro que acabou não se concretizando e agora estão pagando o preço da antecipação.
    Hugo Siqueira Avenida Oscar Ornelas 157 Cabo Verde MG fone 0313537361355

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  3. É isto mesmo: De comum acordo com os técnicos da Eletrobrás, Minc inventou o conceito de “hidrelétrica sazonal” para caracterizar usinas de fio d'água, sem reservatórios, que praticamente só funcionam nas cheias, como as usinas do Madeira, que requerem térmicas de complementação. Devido a altura apreciável, Belo Monte terá geradores do porte de Furnas, com maior número de unidades ( umas 40 talvez). O grande componente do custo dependerá, em grande escala, dos canais de transposição. De qualquer modo — independente da retórica do realismo mágico — mostra indícios de mudança na estratégia dno modo de projetar as usinas da Amazônia.
    Hugo Siqueira av Oscar Ornelas 157 Cabo Ver MG

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  4. Senhor Hugo
    Nem hidrelétricas e nem térmicas. Existem as renováveis como a eólica e solar, por exemplo, que podem complementar. Tudo é uma questão de vontade política dos governantes. A queima de combustíveis fósseis está na contramão da história. Basta mirar-se na degradação ambiental do Sul de Santa Catarina, considerada uma das 14 áreas mais criticas do país e comprovadamente a região onde já aconteceram todos os eventos extremos do clima no Brasil, talvez pela influência da queima de combustíveis fósseis.
    Tadeu Santos ONGSN
    Ara/SC

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